sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A inveja, segundo São Tomaz de Aquino

Por São Tomás de Aquino

As filhas da inveja




De Malo, questão 10, artigo 3 - A inveja é pecado capital. As filhas da inveja (murmuração, detração, ódio, exultação pela adversidade, aflição pela prosperidade)

Como dissemos acima, vícios capitais são aqueles que, a título de causa final, geram outros vícios. Ora, o fim tem caráter de bem e, do mesmo modo, a vontade tende ao bem e à fruição do bem, que é o prazer. Por isso, assim como a vontade é movida a agir pelo bem é também movida pelo prazer.

e-se também considerar que, assim como o bem é o fim do movimento volitivo de perseguir [prosecutio: tender a um bem para obtê-lo], assim também o mal é o fim do movimento volitivo que é o fugir: do mesmo modo como alguém que quer obter um bem, persegue-o; assim também quem quer evitar um mal, foge dele. E como o prazer é a fruição de um bem, assim também a tristeza é um certo termo do mal que oprime o ânimo. O homem que repudia a tristeza é levado a fazer muitas coisas para afastar a tristeza ou as coisas que inclinam à tristeza.

Ora, sendo a inveja uma tristeza pela glória de outro, considerada como um certo mal, segue-se que, movido pela inveja, tenda a fazer coisas contra a ordem moral para atingir o próximo e, assim, a inveja é vício capital.

Nesse impulso da inveja, há princípio e termo final. O princípio é precisamente impedir a glória alheia, que é o que entristece o invejoso, e isto se faz diminuindo o bem do outro ou falando mal dele: disfarçadamente, pela murmuração [sussurratio, fofoca], ou abertamente, pela detração.

Já o termo final da inveja pode ser considerado de dois modos: um primeiro diz respeito à pessoa invejada e, nesse caso, o impulso da inveja termina, por vezes, em ódio, isto é, o invejoso não só se entristece pela superioridade do outro, mas, mais do que isso, quer seu mal sob todos os aspectos.

De um outro modo, o termo final desse impulso pode ser considerado por parte do próprio invejoso, que se alegra quando consegue obter o fim que intentava: diminuir a glória do próximo e, assim, se constitui esta filha da inveja que é a exultação pela adversidade do próximo. Mas, quando não consegue obter seu propósito - o de impedir a glória do próximo -, então se entristece: é a filha da inveja chamada aflição pela prosperidade do próximo.

[1] Trechos do livro Tomás de Aquino – Sobre o Ensino (De Magistro) & Os Sete Pecados Capitais, São Paulo, Martins Fontes, 2001.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Comunicado do WikiLeaks

Este comunciado oficial foi publicado na noite de ontem pela organização.

“A divulgação do Cablegate pelo Wikileaks está sendo usada por centenas de canais jornalísticos e grupos de ativistas ao redor do mundo.

Existem agora mais de 1.300 telegramas em domínio público, e outros centenas de milhares estão para ser divulgados.

Como em toda história dessa magnitude, o caso está sendo usado tanto por governos quanto por jornalistas: o governo iraniano condenou a Wikileaks como uma organização de fachada dos Estados Unidos; os governos da China e da Rússia sugeriam que Julian Assange fosse premiado com o Nobel, enquanto Israel recebeu bem as notícias do Oriente Médio que revelam como muitas nações compartilham receios a respeito do regime nuclear do Irã.

Alguns dos jornalistas, governos e ativistas que estão escrevendo sobre o material dos telegramas das embaixadas têm percepções extremas sobre vários assuntos. Essas percepções não são as percepções do Wikileaks.

A Wikileaks é uma organização dedicada à transparência e à prestação de contas, e a permitir que whistleblowers (informantes) possam fazer com que governos e corporações prestem contas sobre o que fazem de errado.

Esse é o único propósito da Wikileaks, que vamos continuar a buscar incansavelmente”.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A gestão da saúde, por Temporão

Do Valor

Desafio é mudar gestão da saúde, diz Temporão

Luciano Máximo | De São Paulo
13/12/2010

Em tom de despedida, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse ao Valor que o maior desafio do setor nos próximos anos será a execução de ampla reformulação da gestão nos serviços de saúde pública do país. Segundo ele, a presidente eleita, Dilma Rousseff, está determinada em flexibilizar as atuais regras da administração pública na operação de hospitais e políticas de pessoal.

Temporão, que não ficará no governo, disse que o projeto de lei 92, encaminhado pelos Ministérios da Saúde e do Planejamento ao Congresso Nacional em 2007, voltará a agenda nacional "com força", estimulado pela presidente. A matéria trata da entrega da gestão de hospitais públicos a fundações de direito privado, modelo que dá liberdade de empresa privada na política de compras e maior dinamismo na contratação e dispensa de funcionários. As mudanças, que acabaram engavetadas, enfrentaram forte oposição do movimento sindical e deram margem para interpretação de que o Sistema Único de Saúde (SUS) poderia estar sendo terceirizado ou até privatizado.


O ministro também fez um balanço de sua gestão à frente da pasta, destacando a melhora dos principais indicadores de saúde do país, como mortalidade infantil e materna. Temporão disse ainda 85% da população brasileira considera o SUS ótimo ou bom, segundo levantamento do governo. Por fim, o ministro relata como está conduzindo o processo de transição e disse que, ao fim do mandato, deverá retomar as aulas e a pesquisa acadêmica na Fiocruz, no Rio de Janeiro. A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida por telefone, na semana passada:

Valor: A saúde pública no Brasil melhorou?

José Gomes Temporão: Se olharmos os indicadores tradicionais de saúde pública, que medem mortalidade, incidência e prevalência de doenças, a melhoria é evidente, robusta. A expectativa de vida do brasileiro está aumentando, a desnutrição infantil despencou, mortalidade materna por complicações do parto e no pós-parto caiu 56%. O aborto passou de quarta para quinta principal causa de morte no país, embora ainda seja um problema sério. Esses dados nos permitem afirmar que sim, a saúde melhorou de forma significativa.

Valor: Por que, então, há a percepção, uma espécie de senso comum, de que a saúde é ruim?

Temporão: Vou dar um exemplo didático. Seu filho chega da escola mais cedo porque o professor de matemática faltou. Aí você pensa: "Que coisa chata, vou reclamar com a diretora." O que aconteceu de ruim nesse episódio? Seu filho perdeu um dia de aula. Na saúde, se o neurocirurgião não estiver na sala de operação, se o remédio não estiver disponível, se o tempo de espera for muito grande e você estiver no calor, com dor, é outra dimensão. Muitas pesquisas de opinião, tipo Ibope, Datafolha, registram essa dimensão. Mas a Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio] mais recente, do IBGE, que entrevistou 340 mil pessoas, fez uma avaliação do atendimento no sistema público de saúde e 85% das respostas foram bom e ótimo. Aí tenho que ser crítico, não dá para comparar uma pesquisa que fala com 2 mil pessoas rapidamente na rua com outra que vai na casa da pessoa e aplica um questionário e entrevista 340 mil pessoas. Mas é evidente que a saúde pública tem que melhorar, tem problemas sérios, de gestão, de financiamento.

Valor: Esses são os maiores desafios na área?

Temporão: A administração pública direta pode ser muito boa para o Banco Central, a Polícia Federal, a burocracia tradicional, mas não funciona para hospitais e serviços de saúde. Eu tenho que ter uma gestão que garanta eficiência do gasto, melhor organização e que me permita fazer mais e melhor com menos recursos. A proposta das fundações estatais de direito privado foi engavetada pelo Congresso Nacional, mas para minha satisfação praticamente todos os Estados brasileiros estão copiando ou fazendo adaptação da mesma proposta. Então, eu diria que a gestão, que está na agenda central da presidente Dilma, passou por mudanças muito significativas nesses últimos três anos. Minha briga pelo modelo de gestão [das fundações] teve importância.

Valor: As fundações voltam à agenda nacional no novo governo?

Temporão: A presidente Dilma, na reunião de transição, foi bastante clara: vamos ter que usar melhor os recursos que temos. Aí não tem jeito, ou enfrentamos a questão do modelo de gestão - profissionalizando, incluindo contrato de metas, indicadores, premiação por desempenho, repensando o tipo de contrato dos funcionários públicos - ou nós não vamos melhorar a eficiência. Na minha percepção, esse tema é apoiado pela opinião pública e vejo a presidente Dilma com uma visão muito acurada, muito focada nisso. Essa questão volta com força no próximo governo.

Valor: Financiamento também está entre as prioridades?

Temporão: Não há dúvida. Todos os países com sistemas universais de saúde parecidos com o Brasil gastam mais recursos públicos do que a gente. Aqui 60% dos gastos de saúde são privados, das famílias e das empresas, e 40%, públicos. A participação da União nos gastos de saúde vem caindo ao longo dos anos. Em 1985, quando eu era diretor do Inamps, o governo federal respondia por 80% dos gastos públicos em saúde, hoje é menos de 50%. A equação está na mesa. Os dois problemas são gestão e financiamento.

Valor: Por que é tão difícil vincular recursos das receitas da União a gastos na saúde, assim como fazem Estados e municípios?

Temporão: Caímos na discussão da Emenda Constitucional 29. A lei hoje é clara. Os Estados têm que gastar 12% das receitas e nem todos gastam, porque a emenda não está regulamentada, então o conceito de gasto também não. A União segue o que manda a lei, que é o gasto anterior mais a variação nominal do PIB. A vinculação de receitas federais é exatamente um dos fatores pelo qual a emenda 29 não prospera. Há resistência dentro do governo, na área econômica. Mas há outros caminhos.

Valor: Como o sr. está participando da transição de governos?

Temporão: Estamos trabalhando na preparação de um livro de encargos, uma inovação importante: pela primeira vez o ministro que entrar vai receber um livro sobre como é o ministério, como está organizado, sua estrutura, cargos, informações, conselhos, colegiados, orçamento. Também vou entregar para o meu sucessor um documento mais estratégico, mais objetivo, mais prático, mais conjuntural de questões que precisam ser enfrentadas nos primeiros cem dias da nova administração. Isso vai permitir ao novo administrador entrar com bastante segurança para poder tocar as coisas.

Valor: Então o sr. não continua no ministério?

Temporão: Essa pergunta tem que ser feita para a presidente. Confesso que tenho andado tão ocupado que nem acompanhei a profusão de candidatos ao ministério. Acho que quatro anos na gestão do presidente Lula me honra muito, dei uma contribuição importante para a saúde pública brasileira.

Valor: O sr. fica chateado com as diferentes especulações de nome para ocupar o seu cargo?

Temporão: Não me cabe comentar. Fiquei muito feliz com a Dilma ter dito que quem ela botar no meu lugar ficará a altura da capacidade de Temporão e Adib Jatene. Isso é para colocar no currículo.

fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-gestao-da-saude-por-temporao#more

Departamento de Estado americano alerta alunos a não debaterem o WikiLeaks nas redes sociais

Um oficial do Departamento de Estado americano (equivalente ao Ministério de Relações Exteriores) avisou aos alunos da Columbia University’s School of International and Public Affairs (uma espécie de relações internacionais), esta semana, que discutir assuntos ligados ao site WikiLeaks no Facebook ou Twitter poderia prejudicar suas aspirações profissionais.
O oficial, um ex-estudante da universidade, chamou seu escritório de serviços de carreira para aconselhar que os alunos não postem links que levem a documentos revelados pelo WikiLeaks ou façam comentários nas redes sociais sobre o assunto, pois “envolver-se neste tipo de atividade poderia por em questão a habilidade do estudante em lidar com informações confidenciais, o que faz parte da maior parte dos cargos no governo federal”, disse ele em email enviados aos alunos.
Leia matéria na integra

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Julian Assange: A verdade ganhará sempre

7/12/2010

A WikiLeaks cunhou um novo tipo do jornalismo: o jornalismo científico. Trabalhamos com outros serviços informativos para trazer as notícias às pessoas, mas também para provar que é verdade. Por Julian Assange, publicado no The Australian

por Julian Assange, no The Australian, via Esquerda.net
Traduzido por Paula Sequeiros para o Esquerda.net*

Em 1958 o jovem Rupert Murdoch, então proprietário e editor de The News de Adelaide, escreveu: “na corrida entre segredo e verdade, parece inevitável que a verdade ganhe sempre”.

A sua observação talvez reflectisse a revelação do seu pai, Keith Murdoch, de que as tropas australianas estavam a ser sacrificadas desnecessariamente nas costas de Gallipoli por comandantes britânicos incompetentes. Os britânicos tentaram calá-lo, mas Keith Murdoch não se deixou silenciar e os seus esforços levaram ao fim da campanha desastrosa de Gallipoli.

Quase um século depois, a WikiLeaks está também a publicar destemidamente factos que precisam de ser publicados.

Cresci numa cidade rural de Queensland, onde as pessoas diziam o que lhes ia na alma de forma franca. Desconfiavam dum governo grande, como algo que pode ser corrompido se não for vigiado cuidadosamente. Os dias negros da corrupção no governo de Queensland, antes do inquérito Fitzgerald, são testemunho do que acontece quando os políticos amordaçam os meios de comunicação para não informarem a verdade.

Essas coisas calaram-me fundo. A WikiLeaks foi criada em torno desses valores centrais. A ideia, concebida na Austrália, era usar tecnologias Internet em novas formas de informar a verdade.

A WikiLeaks cunhou um novo tipo do jornalismo: o jornalismo científico. Trabalhamos com outros serviços informativos para trazer as notícias às pessoas, mas também para provar que é verdade. O jornalismo científico permite-nos ler uma história nas notícias, a seguir clicar online para ver o documento original em que é baseada. Dessa forma podemos ajuizar por nós mesmos: a história é verdadeira? O jornalista informou-nos com precisão?

As sociedades democráticas precisam de meios de comunicação fortes e a WikiLeaks é uma parte desses meios. Os meios de comunicação ajudam a que o governo se mantenha honesto. A WikiLeaks revelou algumas verdades difíceis sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão e sobre histórias incompletas da corrupção corporativa.

Houve quem dissesse que sou anti-guerra: para que conste, não sou. Às vezes as nações têm de ir à guerra, e há guerras justas. Mas não há nada mais errado do que um governo mentir ao seu povo sobre essas guerras e depois pedir a esses mesmos cidadãos e cidadãs que arrisquem as suas vidas e os seus impostos com essas mentiras. Se uma guerra for justificada, então digam a verdade e as pessoas decidirão se a apoiam.

Se você tiver lido alguns dos diários de guerra do Afeganistão ou do Iraque, algum dos telegramas da embaixada dos Estados Unidos ou alguma das histórias sobre as coisas que a WikiLeaks reportou, pondere como é importante para todos os meios de comunicação serem capazes de informar estas coisas livremente.

A WikiLeaks não é o único editor dos telegramas da embaixada dos Estados Unidos. Outros serviços informativos, incluindo o britânico The Guardian, o The New York Times, o El Pais em Espanha e a Der Spiegel da Alemanha publicaram os mesmos telegramas editados.

Mas é a WikiLeaks, como coordenador desses outros grupos, que apanhou com os ataques e acusações mais maldosos do governo dos Estados Unidos e dos seus acólitos. Fui acusado de traição, embora seja australiano, não um cidadão dos EUA. Houve dúzias de apelos graves nos EUA para que eu fosse “retirado” por forças especiais dos Estados Unidos. Sarah Palin diz que devo ser “acossado como Osama bin Laden”, um projecto de lei republicano apresenta-se ao Senado dos Estados Unidos tentando que me declarem “uma ameaça transnacional” e se desembaracem de mim consequentemente. Um conselheiro do gabinete do Primeiro-Ministro canadiano apelou à televisão nacional para que eu fosse assassinado. Um blogger americano pediu que o meu filho de 20 anos, aqui na Austrália, fosse raptado e mal-tratado por mais nenhuma razão senão para apanharem-me.

E os australianos devem observar sem qualquer orgulho a alcoviteirice ignominiosa desses sentimentos pela Primeira-Ministra Gillard e pela Secretária de Estado dos Estados Unidos Hillary Clinton, que não tiveram uma palavra de crítica para com os outros meios de comunicação. Isto acontece porque o The Guardian, o The New York Times e a Der Spiegel são antigos e grandes, enquanto a WikiLeaks é ainda jovem e pequena.

Somos os da mó de baixo. O governo de Gillard está a tentar matar o mensageiro porque não quer a verdade revelada, incluindo a informação dos seu próprios feitos diplomáticos e políticos.

Houve alguma resposta do governo australiano às numerosas ameaças públicas de violência contra mim e outro pessoal da WikiLeaks? Poder-se-ia ter pensado que um primeiro-ministro australiano iria defendendo os seus cidadãos contra tais coisas, mas houve apenas reclamações não inteiramente genuínas de ilegalidade. Da Primeira-Ministra, e especialmente do Procurador-Geral, espera-se que tratem os seus deveres com dignidade e acima das querelas. Fiquem descansados, esses dois vão tratar de salvar a sua própria pele. Não o farão.

Sempre que a WikiLeaks publica a verdade sobre abusos cometidos por agências dos Estados Unidos, os políticos australianos entoam um coro provavelmente falso com o Departamento de Estado: “Vai arriscar vidas! Segurança nacional! Vai pôr as tropas em perigo!” Depois dizem que não há nada importante no que a WikiLeaks publica. Não podem ser verdade ambas as coisas. Qual delas é?

Não é nenhuma. A WikiLeaks tem uma história de publicação com quatro anos. Durante esse tempo mudámos governos inteiros, mas nem uma pessoa, que se saiba, foi mal-tratada. Mas os EUA, com a conivência do governo australiano, mataram milhares só nestes últimos meses.

O Secretário da Defesa dos Estados Unidos Robert Gates admitiu numa carta ao Congresso dos EUA que nenhuma fonte de informação ou métodos sensíveis tinham ficado comprometidos pela revelação dos diários de guerra afegãos. O Pentágono afirmou que não houve nenhuma prova de que os relatórios da WikiLeaks tinham levado alguém a ser mal-tratado no Afeganistão. A NATO em Cabul disse à CNN que não pôde encontrar nem uma pessoa que precisasse de protecção. O Departamento Australiano de Defesa disse o mesmo. Nenhuma tropa australiana ou fontes foram prejudicadas por nada que tivéssemos publicado.

Mas as nossas publicações estão longe de não ser importantes. Os telegramas diplomáticos dos Estados Unidos revelam alguns factos alarmantes:

– Os EUA pediram aos seus diplomatas que roubassem material humano pessoal e informação a funcionários da ONU e a grupos de direitos humanos, incluindo ADN, impressões digitais, exames de íris, números de cartão de crédito, senhas de Internet e fotos de identificação numa violação de tratados internacionais. Os diplomatas australianos da ONU presumivelmente podem ser visados também.

– O rei Abdullah da Arábia Saudita pediu que os representantes dos Estados Unidos na Jordânia e no Bahrain exigissem que o programa nuclear do Irão fosse detido por qualquer meio disponível.

– O inquérito britânico sobre o Iraque foi ajustado para proteger os “interesses dos Estados Unidos”.

– A Suécia é um membro encoberto da NATO e a partilha de informação de espionagem é escondida do parlamento.

– Os EUA estão a jogar duro para conseguir que outros países recebam detidos libertados da Baía Guantánamo. Barack Obama aceitou encontrar-se com o Presidente Esloveno apenas se a Eslovénia recebesse um preso. Ao nosso vizinho do Pacífico Kiribati foram oferecidos milhões de dólares para aceitar detidos.

Na sentença que se tornou um marco sobre o caso dos Documentos do Pentágono, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos disse que “só uma imprensa livre e sem restrições pode expor eficazmente as fraudes do governo”. A tempestade que gira hoje em volta da WikiLeaks reforça a necessidade de defender o direito de todos os meios de comunicação a revelar a verdade.

Julian Assange é redactor-chefe da WikiLeaks.

****

O Esquerda.net decidiu responder positivamente ao apelo da Wikileaks e pôs à disposição da organização dirigida por Julian Assange um servidor para alojar um espelho (mirror) do site. Este espelho será uma cópia do site Wikileaks, e será administrado pela sua equipa, não tendo a redacção do Esquerda.net qualquer interferência ou acesso ao seu conteúdo.

Desde que começou a divulgar os telegramas de embaixadas americanas em todo o mundo, naquilo que já é conhecido como o Cablegate, o site da Wikileaks sofreu ataques do tipo “denial of service” para tentar bloqueá-lo, e um ataque mais real pepetrado pelas empresas Amazon e EveryDNS.net, que acabaram com o domínio principal do site, o wikileaks.org.

Fonte: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/julian-assange-a-verdade-ganhara-sempre.html
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/julian-assange-a-verdade-ganhara-sempre.html

sábado, 6 de novembro de 2010

Manuel Castells: “O poder tem medo da internet"

Segundo o Social Sciences Citation Index o sociólogo espanhol Manuel Castells foi o quarto cientista social mais citado no mundo no período 2000-2006 e o mais citado acadêmico da área de comunicação, no mesmo período.

Poucos pensadores em todo o mundo estudaram a sociedade da informação com tanta profundidade quanto Castells. A sua trilogia A era da informação já foi traduzida para 23 línguas, e já se transformou numa obra de leitura obrigatória nas faculdades de comunicação social em todo o mundo.

Ano passado (Janeiro de 2008), Castells concedeu uma entrevista à jornalista Milagros Pérez Oliva, do periódico espanhol El País, onde ele fala sobre uma das pesquisas mais recentes desenvolvidas por ele. O Projeto Internet Cataluña, em que durante seis anos analisou, com 15 mil entrevistas pessoais e 40 mil pela internet, as mudanças que a Internet introduz na cultura e na organização social.


Na entrevista que se segue ele sustenta, com sua genialidade costumeira, que o poder tem medo da internet e mostra ainda como as novas tecnologias da web social distanciam cada vez mais a política da cidadania.

Eis a entrevista.

El País - Esta pesquisa mostra que a Internet não favorece o isolamento, como muitos acreditam, mas que as pessoas que mais usam o chat são as mais sociais.

Castells – Sim. Para nós não é nenhuma surpresa. A surpresa é que esse resultado tenho sido uma surpresa. Há pelo menos 15 estudos importantes no mundo que dão esse mesmo resultado.




El País – Por que acredita que a idéia contrária se estendeu com tanto sucesso?

Castells - Os meios de comunicação tem muito a ver. Todos sabermos que as más notícias são mais notícia. Você utiliza a Internet e seus filhos, também. Mas é mais interessante acreditar que ela está cheia de terroristas, de pornografia… Pensar que é um fator de alienação é mais interessante do que dizer: A Internet é a extensão da sua vida. Se você é sociável, será mais sociável; se não é, a Internet lhe ajudará um pouquinho, mas não muito. Os meios são um certo modo de expressão do que pensa a sociedade: a questão é por que a sociedade pensa isso.

El País - Porque tem medo do novo?

Castells - Exatamente. Mas medo de quem? A velha sociedade tem medo da nova, os pais dos seus filhos, as pessoas que têm o poder ancorado num mundo tecnológico, social e culturalmente antigo do poder que lhes abalroa, que não entendem nem controlam e que percebem como um perigo. E no fundo é mesmo um perigo. Porque a Internete é um instrumento de liberdade e de autonomia, quando o poder sempre foi baseado no controle das pessoas por meio do controle da informação e da comunicação. Mas isto acaba. Porque a Internet não pode ser controlada.

El País - Vivemos numa sociedade onde a gestão da visibilidade na esfera pública midiática, como a define John J. Thompson, se converteu na principal preocupação de qualquer instituição, empresa ou organismo. Mas o controle da imagem pública requer meios que sejam controláveis, e se a Internet não é …

Castells – Não é, e isso explica porque os poderes tem medo da Internet. Estive em várias comissões de assessoria de governos e instituições internacionais nos últimos 15 anos, e a primeira pergunta que os governos sempre fazem é: como podemos controlar a Internet? A resposta é sempre a mesma: não se pode. Pode se vigiar, mas não controlar.

El País - Se a Internet é tão determinante da vida social e econômica, seu acesso pode ser o principal fator de exclusão?

Castells - Não. O mais importante segue sendo o acesso ao trabalho e à carreira profissional e, ainda anteriormente, ao nível educativo, porque sem educação, a tecnologia não serve para nada. Na Espanha, a chamada exclusão digital é por questão de idade. Os dados estão muito claros: entre os maiores de 55 anos, somente 9% são usuários da Internete, mas entre os menores de 25 anos, são 90%.

El País - É, portanto, uma questão de tempo?

Castells - Quando minha geração desaparecer, não haverá mais esta exclusão digital no que diz respeito ao acesso. Mas na sociedade da Internet, o complicado não é saber navegar, mas saber onde ir, onde buscar o que se quer encontrar e o que fazer com o que se encontra. Isso requer educação. Na realidade, a Internet amplifica a velha exclusão social da história, que é o nível de educação. O fato de que 555 dos adultos não tenha completado, na Espanha, a educação secundária, essa é a verdadeira exclusão digital.

El País - Nesta sociedade que tende a ser tão líquida, na expressão de Zygmunt Bauman, em que tudo muda constantemente e que é cada vez mais globalizada, aumenta a sensação de insegurança, de que o mundo se move debaixo dos nossos pés?

Castells – Há uma nova sociedade que eu busquei definir teoricamente com o conceito de sociedade-rede e que não está distante da que define Bauman. Eu creio que, mais que líquida, é uma sociedade em que tudo está articulado de forma transversal e onde menos controle das instituições tradicionais.

El País – Em que sentido?

Castells – Estende-se a idéia de que as instituições centrais da sociedade, o Estado e a família tradicional, já não funcionam. Então, o chão se move sob os nossos pés. Primeiro, as pessoas pensam que seus governos não as representam e que não são confiáveis. Começamos mal. Segundo, elas pensam que o mercado é bom para os que ganham e mau para os que perdem. Como a maioria perde, há uma desconfiança para o que a lógica pura e dura do mercado pode proporcionar às pessoas. Terceiro, estamos globalizados; isso significa que nosso dinheiro está no fluxo global que não controlamos, que a população está submetida ás pressões migratórias muito fortes, de modo que cada vez mais é difícil encerrar as pessoas numa cultura ou nas fronteiras nacionais.

El País - Qual é o papel da Inernet neste processo?

Castells - Por um lado, ao nos permitir aceder à toda informação, aumenta a incerteza, mas ao mesmo tempo é um instrumento chave para a autonomia das pessoas, e isto é algo que demonstramos pela primeira vez na nossa pesquisa. Quanto mais autônoma é uma pessoa, mas ela utiliza a Internet. Em nosso trabalho definimos seis dimensões da autonomia e comprovamos que quando uma pessoa tem um forte projeto de autonomia, em qualquer uma dessas dimensões, ela utiliza Internet com muito mais freqüência e intensidade. E o uso da Internet reforça, por sua vez, a sua autonomia. Mas, claro, quanto mais uma pessoa controla a sua vida, menos ela se fia das instituições.

El País – E maior pode ser sua frustração pela distância que há entre as possibilidades teóricas de participação e as que exerce na prática, que se limitam a votar a cada quatro anos?

Castells - Sim, há um descompasso entre a capacidade tecnológica e a cultura política. Muitos municípios colocaram Wi-Fi de acesso, mas se ao mesmo não são capazes de articular um sistema de participação, servem para que as pessoas organizem melhor as suas próprias redes, mas não para participar na vida política. O problema é que o sistema político não está aberto à participação, ao diálogo constante com os cidadãos, à cultura da autonomia e, portanto, estas tecnologias contribuem para distanciar ainda mais a política da cidadania.

Compartilhar:

Select ratingNota 1Nota 2Nota 3Nota 4Nota 5


Fonte:http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/manuel-castells-%E2%80%9Co-poder-tem-medo-da-internet#more

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Democracia participativa

Watch live streaming video from penosaku at livestream.com

Papo de corredor

Sejam bem vindos, agora além do horário normal podemos continuar aquele papo de corredor pelo virtual, deixe seus comentários, críticas, noticias por aqui, vamos divulgar, trocar idéias e muito mais.